23-07-2006
O confronto entre os movimentos de defesa dos animais e a Casa de
Pessoal da RTP (CP/RTP) continuará nos próximos anos por causa da
realização das corridas RTP, já que nenhuma das partes se mostra
disposta a abdicar.
Seis mil pessoas encheram hoje a Praça de Touros da Póvoa de
Varzim para mais uma Corrida RTP Norte, mas como já se tornou
tradição sempre que há esta corrida, surgiram os protestos.
No passeio fronteiro à entrada principal, três dezenas de pessoas
de sete movimentos de defesa dos animais agrupados na coligação
Unidos Contra as Touradas (UCT) insurgiram-se contra o evento, que
consideram "um espectáculo de barbaridade e selvajaria".
Indiferentes à polémica, muitos cidadãos acumulavam-se em extensas
filas para comprar os bilhetes para a corrida, afirmando a sua "afición",
enquanto outros passavam, calmamente, sem se deter rumo à praia.
Luís Santos, técnico de informática de Barcelos, que não quer
saber de touradas "para nada", manifestava a sua irritação com a
corrida, que lhe tornou a tarefa (já de si normalmente árdua) de
estacionar o carro "uma dor de cabeça". Andou às voltas quase uma
hora e acabou por deixar a viatura "longíssimo" da beira-mar,
disse.
Já António Duarte, bancário ribatejano a residir em Viana do
Castelo, que se fazia acompanhar da mulher, três filhos
adolescentes e dois casais amigos, teve o cuidado de vir de manhã
para a Póvoa, onde comprou os bilhetes antes do almoço, na
tentativa, mesmo assim falhada, de evitar as filas.
"Sempre fui aficionado, não perco uma oportunidade de ver uma boa
corrida de touros e sou perfeitamente capaz de ir por isso de
propósito a Santarém ou a Lisboa. Não podia falhar esta, mesmo
aqui ao pé de casa", disse.
A presidente da CP/RTP, Ana Freixo, responsável pela realização do
evento, afirmou à Lusa estar "muito satisfeita" com a adesão da
população da Póvoa, e fez votos para que a próxima Corrida RTP, a
realizar a 06 de Agosto na Figueira da Foz, tenha o mesmo êxito.
"Todos têm o direito de se manifestar contra ou a favor das
touradas, mas enquanto a Administração da RTP permitir e eu for
presidente da CP/RTP, continuaremos a organizar estas corridas,
celebrando esta tradição tão arreigada em Portugal, como demonstra
a assistência que aqui temos hoje", disse.
Comentando a questão da crueldade contra
os animais, frisou:
"os touros que aqui são lidados têm pelo menos cinco ou seis anos
de vida boa em liberdade antes de serem mortos, enquanto os que
todos os dias são abatidos em silêncio pela indústria da
alimentação vivem um ou dois anos em condições bem piores".
Graça Marto, presidente do Movimento Internacional pela Defesa dos
Animais (MIDAS), que integra a UCT, reconheceu que as corridas de
touros são uma tradição em Portugal, mas sublinhou que "só as boas
tradições são dignas de respeito, as más tradições como esta têm
que acabar".
Segundo a presidente do MIDAS, "também as execuções públicas e os
autos de fé, assim como os sacrifícios de crianças e de raparigas
virgens aos deuses eram tradição em muitas culturas e todos esses
costumes bárbaros acabaram porque sempre houve gente que se
levantou contra eles e os combateu".
"Não seremos muitos, mas nunca deixaremos de nos manifestar e de
mostrar a nossa repulsa pela continuação deste exercício bárbaro
de crueldade contra os animais", disse.
António Abel Pacheco, do Movimento Anti Touradas de Portugal (MATP)
referiu que a próxima iniciativa da coligação UCT será propor que
sejam proibidas as transmissões televisivas de corridas de touros.
"Esta proibição já é um facto em Espanha, país que é considerado
como a pátria das touradas, pelo que é tempo que este espectáculo
bárbaro também deixe de ser exibido nas televisões portuguesas",
disse Graça Marto.
A CP/RTP organiza as corridas RTP há 42 anos em Lisboa e há 10 na
Póvoa de Varzim.
http://www.observatoriodoalgarve.com/cna/noticias_ver.asp?noticia=7363
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