Pesca desses
predadores na costa Leste aumentou número de raias, que comem
ostras
No Atlântico Noroeste, as populações de sete espécies de tubarão
caíram até 99%; Brasil pode estar sentindo mesmo efeito, diz
cientista
30/03/07
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
O mar está apenas para as raias. O que já significa que as vieiras,
mariscos que fazem a fama da culinária da costa leste dos Estados
Unidos, estão sumindo do prato. Um estudo publicado hoje na
revista "Science", feito naquela região, dá pela primeira vez a
real dimensão a algo de que os oceanógrafos já desconfiavam.
No Atlântico Noroeste, a pesca predatória dos tubarões está
causando um grande desequilíbrio em toda a teia ecológica. E os
beneficiados diretos disso são as raias e seus parentes.
O problema é que o prato preferido desses peixes são moluscos como
as vieiras e as ostras -também apreciadas pelos seres humanos. Os
cientistas já sabiam que estas vinham declinando na região. Agora
descobriram por quê.
"Sem os predadores do topo da cadeia (os tubarões) o controle
ecológico acaba. Sob essas condições, nós não ficamos totalmente
surpresos que 12 dos 14 grupos de pequenos tubarões e raias
estudados estão com suas populações maiores", disse à Folha
Charles Peterson, pesquisador da Universidade da Carolina do Norte
e um dos autores do estudo.
A estimativa dos cientistas é que apenas na baía Chesapeake, local
do estudo, existam hoje 40 milhões de raias. O crescimento dessas
populações está na ordem de 8% ao ano.
A análise de dados de pesca do Atlântico Noroeste obtidos a partir
de 1972 atesta que sete espécies de grandes tubarões foram
pescadas até praticamente a extinção. Suas populações caíram de
87% a 99%.
"Isso mostra que manter as populações desses grandes predadores é
algo crítico para sustentar a saúde dos ecossistemas oceânicos",
diz Peterson.
Efeito cascata no Brasil
Na costa brasileira, segundo Jules Soto, curador geral do Museu
Oceanográfico da Univali (Universidade do Vale do Itajaí), o
problema é ainda pior.
"Aqui no Brasil não só os tubarões estão sendo dizimados, pois não
temos pesca tão seletiva. Por causa da pressão exercida pela pesca
de arrasto, ainda bem usada no Brasil, quase todas as comunidades
marinhas estão desaparecendo" , explica.
O aumento dos números de desova de tartarugas-marinhas nas praias
brasileiras pode indicar um desajuste ecológico semelhante ao dos
EUA.
"Os tubarões são os grandes predadores das tartarugas de maior
tamanho. Sem eles, a predação diminui", diz o pesquisador da
Univali.
O artigo da "Science" tem como autor principal Ransom Myers, 54,
da Universidade Dalhousie. O cientista morreu anteontem nos EUA,
vítima de um câncer cerebral.
Fonte: Folha de São Paulo
Criadores querem vender pênis de tigre na China
30 de março de 2007
HONG KONG -
Criadores de animais selvagens na China estão pressionando o
governo para voltar a legalizar o comércio de ossos e pênis de
tigres criados em cativeiro.
Eles argumentam que a regularização vai acabar com a matança e o
tráfico dos animais, além de beneficiar doentes que dependem de
remédios feitos à base dos raros ingredientes extraídos do tigre.
"Se canais legais existirem, a motivação para comprar ossos de
fontes ilegais diminuirá drasticamente", disse Wang Liang,
gerente-geral do Parque de Tigres Siberianos de Heilongjiang,
província ao norte da China, segundo reportagem do jornal China
Daily.
Segundo a medicina tradicional chinesa, medicamentos com ossos de
tigre podem curar convulsões, preguiça, malária, doenças de pele e
até reumatismo. O pênis do tigre, por sua vez, é tido como um
poderoso afrodisíaco.
O comércio de partes de tigre está proibido desde 1993 na China.
Até então, o país era o maior consumidor do mundo deste tipo de
produto para fins medicinais.
Lavanderia de caça
Há duas semanas, a organização não-governamental World Wildlife
Fund (WWF), divulgou uma extensa pesquisa denunciando o lobby
sobre o comércio de partes de tigre na China e recomendando que a
proibição seja mantida.
O WWF teme que a legalização transforme o país numa espécie de
"lavanderia de caça" da Ásia. Um lugar para onde ossos e pênis de
animais selvagens possam ser importados, regularizados e vendidos
como se fossem procedentes das fazendas de criação.
"O tigre selvagem pode ser extinto, pois haverá ´lavagem´ de
partes de animais caçados na Índia, Nepal e Indonésia" explicou à
BBC Brasil Susan Liberman, diretora do programa de Espécies
Globais da WWF.
"Como você vai saber se está comprando um produto de tigre
selvagem ou de criação?", questionou Lieberman.
Consumo
O mesmo estudo sondou 663 farmácias tradicionais na China em busca
de medicamentos com ingredientes de tigre e constatou que menos de
3% dos estabelecimentos ofereciam os remédios proibidos.
"Esta é uma boa notícia. As pessoas estão respeitando a lei e isto
se deve à forte fiscalização" elogiou o diretor-executivo do
Traffic, o programa de monitoramento de animais da WWF, Steven
Broad, à BBC Brasil.
Mas a escassez de produtos à base de tigre não representa
desinteresse do consumidor, segundo Broad.
"Isso não revela qual é a verdadeira demanda e o que pode
acontecer se de repente for permitido oferecer este tipo de
produto. É possível que haja grande consumo. Legalizar é uma
aposta muito arriscada", completou o ativista.
A WWF calcula que existam mais de 200 zoológicos e fazendas de
criação de tigres na China e, ao todo, elas mantêm por volta de 4
mil felinos em cativeiro. Outros 5 mil a 7 mil tigres selvagens
viveriam na natureza, a maior parte deles na Índia.
http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2007/mar/30/216.htm
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