26/05/2006
RAFAEL GARCIA
da Folha de S.Paulo
Uma população de chimpanzés isolada em Camarões foi o ponto de
partida do subtipo 1 do HIV, o que mais se espalha hoje pelo
mundo. A descoberta foi feita por um grupo de cientistas que criou
um método para detectar a presença de vírus nas fezes dos macacos.
Já se sabia que o HIV estava intimamente relacionado ao SIV (a
versão símia do vírus) mas ainda não havia meios técnicos de
detectar qual população selvagem abrigava o vírus.
"Os chimpanzés são reclusos, evitam contato com humanos e são uma
espécie ameaçada sob proteção", disse à Folha Brandon Keele, da
Universidade do Alabama, autor principal do estudo que descreve a
descoberta. "Por causa disso, tivemos de desenvolver uma técnica
totalmente não-invasiva, o que durou sete anos."
O trabalho de Keele e colegas, publicado on-line na revista "Science"
www.sciencexpress.org ,
não deve trazer conseqüências imediatas para o desenvolvimento de
vacinas e antivirais, mas é de importância vital para compreender
a biologia do HIV.
"É uma peça que faltava no quebra-cabeças", diz Paolo Zanotto,
especialista em evolução viral do Instituto de Ciências Biomédicas
da USP. "Agora podemos entender quanto da diversidade do vírus se
deve ao contato dele com humanos e quanto dela já existia nos
chimpanzés", afirmou.
Com análises genéticas mais refinadas, os pesquisadores
conseguiram ainda distinguir as origens de duas variantes do
vírus, uma pandêmica e outra que só existe em partes da África.
Cada uma delas infectava populações diferentes de chimpanzé dentro
de Camarões.
À medida que mais populações de chimpanzés forem sondadas, os
cientistas podem ter pistas sobre como o HIV ganhou a capacidade
de infectar humanos. "Estamos trabalhando agora para determinar
quais mutações se acumularam quando ele ainda estava no hospedeiro
original, e o que essas mudanças significam em termos
patológicos", diz Keele.
Ele não revela planos de investigar macacos em outros países, mas
agora que a técnica está disponível outros grupos poderão
reproduzi-la.
A descoberta de Keele e colegas é também um reforço ao alerta de
que o contato entre humanos e chimpanzés é receita para o
desastre.
Em muitos países da África é comum o consumo de carne de
chimpanzés, gorilas e outros grandes macacos. A maioria dos
cientistas acredita que essa é a forma mais comum e arriscada de
contato com os vírus que podem eventualmente trafegar entre as
duas espécies.
Como o reservatório de SIV ainda existe tanto em Camarões como em
populações de chimpanzés de outros países africanos, o consumo de
carne símia aumenta bastante o risco do surgimento de novas
variantes do vírus da Aids capazes de infectar humanos.
Com parcos recursos, os caçadores ilegais não têm como separar os
chimpanzés infectados por SIV daqueles não infectados, já que o
vírus não deixa os macacos doentes.
"Se o 'bushmeat' [hábito de comer animais selvagens] continuar,
não há nada que garanta que isso não vai acontecer", diz Keele. "O
HIV-1 já trafegou três vezes de chimpanzés para humanos, e o HIV-2
veio de macacos mangabei (Cercocebus atys) mais de uma vez."
O surgimento de uma nova variante do vírus seria um sério problema
para o desenvolvimento de vacinas, já que é possível que a
imunização eficaz não cubra todos os subtipos de HIV existentes.
Santuário de primatas
Transcrevemos a
matéria publicada no Jornal Bom Dia de Sorocaba:
Representantes do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis) visitaram, ontem pela manhã, o
Santuário do GAP (Projeto de Proteção dos Grandes Animais), na
zona rural de Sorocaba. O local abriga 37 espécies diferentes de
animais, incluindo macacos do Brasil e outros países.
O diretor de Fauna do Ibama, Rômulo Mello, conta que o principal
objetivo da visita foi conhecer a infra-estrutura do Santuário.
A visita também está relacionada a duas questões pendentes em
relação ao abrigo de animais, conforme explica o proprietário do
Santuário, Pedro Alejandro Ynterian. Ele diz que pleiteia a vinda
de 13 chimpanzés que estavam em Vargem Grande Paulista e que
vieram do Circo Garcia, quel não funciona mais. Com a morte da
proprietária do circo, o Ibama define agora o lugar para onde
serão encaminhados os animais.
Ynterian comenta que o empresário Beto Carreiro também já mostrou
interesse por alguns deles.
Outra questão que precisa ser resolvida, diz Ynterian, é o destino
de dez chimpanzés angolanos que estão em condições precárias. Ele
comenta que muitos macacos, em Angola, vivem em residências de
famílias e que ele sempre está em contato com o governo angolano.
Há planos até de construção de um Santuário naquele país.
Após a visita, o diretor de Fauna do Ibama disse que “teve uma
impressão excelente” do Santuário do GAP e que buscará a melhor
alternativa para os animais do Circo Garcia e outros que vivem em
condições precárias. Ele afirma que também analisará processos
administrativos de cada caso antes de tomar a decisão.
Ynterian conta que o santuário existe há seis anos e nele estão
animais vindos de circos, zoológicos e de pessoas que criavam
esses animais. “Cada um deles tem uma história e traumas
diferentes. Aqui, todos recebem cuidados especiais”, diz ele.
O último chimpanzé que chegou ao Santuário é Johnny, 16 anos. Ele
veio do Zoológico de Curitiba, onde ficou quatro anos e não se
adaptou. Antes, durante 10 anos, ele foi criado por uma família,
em uma gaiola de 25 metros quadrados.
Segundo informações disponíveis no site do GAP, Johnny veio da
Suíça com dois anos de idade.
O proprietário do Santuário é bioquímico, empresário e natural de
Cuba. Ele mora em Sorocaba desde 1965. “Ynterian está sempre
atento às lutas ambientais, especialmente as voltadas à
conservação dos primatas”, diz a vereadora Tânia Baccelli, que
acompanhou a visita. O empresário também é coordenador do Grupo de
Apoio aos Primatas. 27/5/2006"
Fonte:
http://www.bomdiasorocaba.com.br/index.asp?jbd=2&id=108&mat=28916
Notícias do GAP 29.05.2006
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