14/08/2006
Por Francesca Colombo
Anualmente, cerca de 300 mil cães e gatos são deixados nas ruas
por seus donos, e 85% deles morrem 20 dias após serem abandonados.
MILÃO, 14 de agosto (Terramérica).-
As férias
de verão representam um enorme risco para os animais domésticos na
Itália. Os veranistas viajam sem se preocupar com seus fiéis
amigos de quatro patas. Muitos, inclusive, os deixam na rua sem
nenhuma culpa. O problema já tem alcance nacional. A cada ano, 300
mil cães e gatos são abandonados em ruas ou parques italianos. As
causas vão desde a proibição de entrar com os animais em hotéis,
restaurantes e outros lugares públicos, até à dificuldade
econômica para pagar quem cuide dos animais. Em Roma, por exemplo,
um caso de maus-tratos de animais foi registrado quando um homem
deixou seu cachorro preso no carro durante três dias porque viajou
no final de semana, segundo informe de 2004 do Instituto Nacional
de Proteção Animal (ENPA) sobre maus-tratos de animais.
“Na Itália, não há cultura de se ter animais domésticos.
Entretanto, nos últimos 20 anos, aumentou esse desejo. Famílias
com três membros, geralmente, possuem um animal de estimação.
Porém, não existe uma responsabilidade cívica e moral. Os animais
são vistos como objetos”, disse ao Terramérica o direitor da Liga
Antivivisecção de Animais (LAV), Gianluca Felicite. Destes
animais, 85% morrem 20 dias depois de abandonados, principalmente
em acidentes de trânsito, que também se tornam trágicos para os
motoristas. Segundo a Polícia de Trânsito, em 2004 houve 754
acidentes porque os motoristas tiveram de desviar de cães e gatos
que cruzavam a estrada. Estes acidentes deixaram 380 pessoas
mortas e 9.978 feridas. Por outro lado, 280 mil cães e gatos
morrem anualmente debaixo das rodas de carros e caminhões.
Embora o Código Penal castigue o abandono de animais com um ano de
prisão para os casos mais graves – como a morte – e imponha multas
que variam de mil a dez mil euros, isto não assusta os
proprietários nem resolve o problema. O abandono de animais
acontece o ano todo, segundo a LAV, atingindo seu pico (30%)
durante a abertura de caça ao veado. Os caçadores colocam seus
cães à prova e se desfazem dos que não servem para essa tarefa. “É
um enorme problema, apesar das campanhas de prevenção e dos apelos
que fazemos na Itália. Muitas pessoas não pensam nas
responsabilidades quando compram um cão ou um gato. Vêem um
cachorrinho e o levam para casa, mas não se dão conta de que
depois crescem e precisam de cuidados, passeios e alimentos”,
disse ao Terramérica o presidente da Associação de Defesa dos
Animais da cidade de Trento, Leoni Enrico.
Além disso, o abandono de cães e gatos alimenta um negócio um
tanto nebuloso de canis públicos e abrigos privados. Na Itália,
existem 990 desses refúgios, onde se encontram 640 mil cães e 290
mil gatos, segundo o Ministério da Saúde. Estas instituições não
são suficientes para o número de animais abandonados. Por isso, os
municípios preferem delegar esta tarefa aos abrigos privados. A
contribuição estatal para o cuidado destes animais vai de dois a
sete euros por dia. Assim, cinco mil abrigos privados dividem 500
milhões de euros em subvenções estatais para sua manutenção. Na
realidade, estes administradores privados não utilizam todos esses
milhões para cumprir seu dever de cuidar da saúde, alimentar e
proteger estes animais.
“O abandono também aumenta nos abrigos. Entre junho e agosto, os
proprietários apresentam as desculpas mais estapafúrdias para se
desfazerem de seus animais domésticos”, disse ao Terramérica a
voluntária da associação italiana Dimensión Animal, Daniela
Ferrari. Funcionários de um abrigo da localidade de Noha retiraram
as cordas vocais de 190 cães para evitar a poluição sonora. Apesar
disto, este centro continua funcionando. Em geral, a situação dos
animais nessas instituições privadas não é boa. Os cães vivem
largados em jaulas pequenas. Têm os olhos fechados por causa da
conjuntivite, a pele em péssimo estado e pode-se ver seus ossos
devido à desnutrição. Vivem em meio aos seus próprios excrementos
e não têm abrigo para o frio nem para o calor. Não recebem nenhuma
assistência veterinária, são maltratados e até 60% deles morrem. A
fome e a falta de espaço os deixa agressivos, determinando casos
de violência e até de canibalismo.
“É fácil maltratar os animais. Muitos proprietários o fazem dentro
de casa. Se alguém quer denunciar esses fatos, a própria polícia
convence a pessoa a não fazê-lo. Os casos acabam arquivados porque
são considerados delitos menores”, explicou ao Terramérica
Ludovica Lucia Ferrari, da Associação de Defesa dos Animais da
região da Lombardia.
* A autora é colaboradora do Terramérica.
LINKS EXTERNOS
LAV
http://www.infolav.org/home/index.htm
Instituto Nacional de Protección Animal
http://www.enpa.it/
Dimensión Animal
http://www.dimensioneanimale.it/
Liga Nacional para la Defensa del Perro
http://www.legadelcane.org/
Cane Amico
http://www.caneamico.com/
Crédito:Processo
Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos
Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o
Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e
distribuído pela Agência Envolverde.
(Envolverde/Terramérica) |