24/03/06 ( Fonte: Reuters)
Por Alister Doyle
OSLO, Noruega (Reuters) -
O mundo
precisa fazer mais esforços para deter o tráfico de animais
selvagens e assim diminuir a velocidade de extinção decorrente da
ação de criminosos como as mulheres detidas com ovos de espécies de
ave em extinção dentro do sutiã, disse na sexta-feira uma autoridade
da Organização das Nações Unidas (ONU).
Os órgãos encarregados de combater os crimes ambientais possuem
poucos recursos quando comparados com os dedicados a impedir o
tráfico de drogas ou o contrabando de armas.
E isso apesar de os produtos tirados do meio ambiente ilegalmente,
como caviar e xales feitos da lã de um antílope tibetano ameaçado,
valerem mais do que seu peso em ouro.
"Vencer a luta contra o tráfico de narcóticos, seres humanos e armas
envolverá uma guerra de longo prazo", afirmou John Sellar,
autoridade da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies
Ameaçadas (Cites), da ONU.
"Mas, no caso do crime ambiental, várias espécies de animais não têm
mais tempo", disse à Reuters. "E, se essa guerra for perdida, ao
contrário do que acontece no caso das armas ou das drogas, não se
pode voltar e fazer mais."
Governos do mundo todo estão reunidos entre os dias 20 e 31 de
março, em Curitiba, para discutir como proteger a biodiversidade
mundial segundo prevê uma meta estabelecida pela ONU em 2002 e que
prevê diminuir a perda de espécies até 2010.
Um estudo da ONU divulgado nesta semana disse que os seres humanos
eram os responsáveis pela pior onda de extinções desde que os
dinossauros morreram, 65 milhões de anos atrás.
O mercado de animais silvestres soma-se a ameaças como o
desmatamento, a poluição e o aquecimento do clima ao alimentar a
demanda por peles de tigre, barbatanas de tubarão, papagaios raros
ou chifres de rinoceronte usados como remédio contra impotência
sexual em algumas partes da Ásia.
"Um dos problemas é que os dados sobre os crimes contra a vida
selvagem é profundamente errático. Não sabemos nada do que está
acontecendo quando comparamos essa situação com o tráfico de drogas,
armas ou seres humanos", disse Sellar.
RISCOS MÍNIMOS
"Se você estiver envolvido com o tipo certo de crime ambiental, ele
é muito lucrativo e os riscos são mínimos", afirmou o funcionário da
ONU, nascido na Escócia e ex-policial.
Em Abu Dhabi, no ano passado, um homem teria pago 200 mil dólares
por um falcão ameaçado. Xales de shahtoosh -- a lã de um raro
antílope tibetano -- podem chegar a 20 mil dólares.
"Temos muitos exemplos nos quais os produtos valem mais -- se
comparados em termos de peso -- do que a cocaína, a heroína, o ouro
ou diamantes", afirmou.
Mulheres foram detidas várias vezes com ovos de aves ameaçadas
dentro de seus sutiãs -- o que ajuda na incubação deles. O método
representa ainda uma facilidade se comparado com o problema de
transportar um papagaio barulhento.
O grupo Traffic, que monitora a vida selvagem no mundo todo, diz que
o comércio ilegal de animais e plantas envolve bilhões de dólares e
concentra-se na madeira e nos peixes. O Cites regulamenta o comércio
de 30 mil espécies ameaçadas de plantas e animais.
Sellar notou que as negociações realizadas no Brasil, em meio à
Convenção sobre Diversidade Biológica, discutem um maior
monitoramento da vida selvagem por causa da gripe aviária. "Estamos
ansiosos para aumentar a cooperação", disse. |