Farra do boi
acaba em morte no Litoral
Jovem de 18 anos morre em colisão entre duas motos no Bairro
Sertão do Trombudo, município de Itapema
SICILIA VECHI/ Itapema
A insistência de alguns moradores de Itapema e Penha em promover
farras do boi culminou com a morte de um jovem de 18 anos na
madrugada de sexta-feira e diversos confrontos com a polícia. Um
policial militar de Navegantes recebeu uma pedrada na cabeça,
enquanto ajudava a PM de Penha a conter o vandalismo, na madrugada
de ontem.
No mesmo município, dois motoristas foram presos transportando
bois dopados nas carrocerias de automóveis Fiat Fiorino. Em Penha,
foram três animais e dois veículos apreendidos no fim de semana.
Eliseu Maciel, 18 anos, morreu na madrugada de sábado, após um
acidente de moto no Bairro Sertão do Trombudo, em Itapema. De
acordo com a Polícia Militar, o jovem e mais dois rapazes, de 21 e
26 anos, que também se feriram com gravidade, estariam no local
onde ocorria uma farra do boi, por volta das 22h30min de
sexta-feira.
A família da vítima nega a ocorrência de farra e aponta uma
colisão frontal entre duas motos como causa do acidente.
Os bombeiros encontraram apenas uma moto no local do acidente e a
Polícia Militar não encontrou veículos apontados como envolvidos
para mencionar no boletim de ocorrência.
Eliseu morreu algumas horas depois do acidente de sexta-feira, no
Hospital Santo Antônio, em Itapema. Segundo informações dos
bombeiros e da unidade de saúde, ele teve traumatismo craniano e
fraturas em ossos da face.
As outras vítimas do acidente são Tiago Mateus Marques, 21 anos,
internado com traumatismo craniano e fratura na perna na UTI do
Hospital Santa Inês, em Balneário Camboriú, e Josias Maciel, 26
anos, internado em um quarto do Hospital Marieta, em Itajaí, com
fraturas na face.
Brincadeira pesada
Um acidente feriu Cristiano Batista de Mello, 18 a nos, que
estaria a caminho da farra do boi, na SC-410, bairro de
Tijuquinhas, Biguaçu, sexta-feira. O condutor do Gol, placas de
São José, perdeu o domínio do carro, colidiu contra um muro e
invadiu o terreno de uma casa. O motorista saiu ileso, mas o
carona sofreu lesão na lombar.
Flagrante
Em Governador Celso Ramos, a RBS TV voltou a registrar flagrantes
de farra do boi na madrugada de sábado. Centenas de pessoas
aparecem nas imagens, incluindo famílias com crianças de colo. Em
menor número que os farristas, os policiais militares não
interferiram.
Ocorrências
Os farristas do Litoral Centro-Norte não deram trégua à polícia
nem mesmo à luz do dia no domingo de Páscoa. Foram três
ocorrências registradas em Itapema, duas em Porto Belo e uma em
Tijucas, todas no fim da tarde. As buscas adentraram a noite. Em
Porto Belo, 15 pessoas foram detidas e levadas à delegacia, no
Bairro Canto dos Araçás. Um boi foi sacrificado pelos militares ao
avançar contra viaturas. Houve policiais feridos sem gravidade,
mas a PM não soube repassar quantos, até o início da noite de
ontem. Cerca de 70 homens reforçavam o efetivo policial somente no
combate à farra do boi nas três cidades.
Diário
Catarinesne, 07/04/07
Território sem lei
LAURA COUTINHO/ Governador
Celso Ramos
Ontem, dia "oficial" da farra do boi, cerca de 60 animais foram
soltos para delírio da população de farristas que se concentrou no
município de Governador Celso Ramos, a 41 quilômetros de
Florianópolis. Além dos moradores, pessoas de várias cidades foram
atraídas pela possibilidade de participar da "brincadeira" sem
risco de punição, em função do reduzido policiamento no mais
tradicional reduto da farra no Estado.
No município, os policiais mantêm uma distância segura, alegando o
risco de um possível confronto, os farristas ficam soltos para
cometer infrações de trânsito, danos ao patrimônio e perturbar a
ordem sem temer qualquer repressão.
São centenas de motociclistas embriagados subindo e descendo
morros à procura dos bois em manobras arriscadas, dirigindo
veículos sem placa e sem capacete. Brigas são comuns nesta época.
Quem é veterano na farra, denuncia.
- Eu gosto de participar, mas antigamente a farra era outra. Hoje
é muita droga e bebida. Também não tinha tanto barulho de música
alta e das motos. É muita anarquia - disse Maria Monteiro, 60
anos.
A cidade não dorme durante o feriado. Ontem, às 7h, os olhos
vermelhos, o passo incerto e a imprudência dos farristas diante do
boi denunciavam o sono trocado por uma noite regada a cerveja.
Onde e quando cada boi será solto é de conhecimento geral no
município. Qualquer morador indica onde está acontecendo a farra
do momento. Uma delas, na manhã de ontem, ocorria na Praia de
Ganchos de Fora. Centenas de farristas esperavam pela soltura do
boi, preso em um mangueirão.
Quando o boi é solto, começa a farra propriamente dita. A confusão
é geral. Os que chegam mais perto, provocando o boi a uma
distância nada recomendável, são, geralmente, aqueles que
consumiram mais cerveja durante a madrugada. Centenas de mulheres
e crianças participam da farra, considerada o evento social do
ano.
- Não temos mais nada. Nem teatro, nem cinema. Nossa única
diversão é a farra - defendeu um deles.
Quando o boi reage às provocações e corre em direção aos
farristas, todos torcem pelo animal, querendo assistir ao
confronto. Quanto mais bravo o boi, melhor é a farra.
- Agora eles só trazem boi manso. Não tem mais graça. O bom era no
meu tempo, quando soltavam os bois bravos, que todo mundo
respeitava e saía correndo - lembrou uma farrista veterana.
Perto das 8h de ontem, cinco bois já estavam amarrados na Praia de
Ganchos, o local mais "quente" da farra no município. O boi é
laçado depois de um tempo de brincadeira, quando, exausto de tanta
provocação, já não agüenta mais correr atrás dos farristas.
- O boi é laçado quando tá cansado. Mais tarde, o bicho é trocado
por outro boi "novo" que eles matam para comer - explicou um
farrista que prefere não se identificar.
A origem |
A farra do boi teria
sido originada da "tourada à corda", que surgiu na Ilha
Terceira do arquipélago açoriano, em Portugal, há mais de 500
anos e permanece até hoje, de forma legalizada e
regulamentada, como diversão dos nativos e atração turística. |
Escolhido a dedo pelos
participantes, o animal é amarrado pelos chifres para ter a
movimentação limitada e o ímpeto moderado. |
Sob uma salva de
foguetes, o touro inicia a correria atrás dos homens, enquanto
as varandas e muros ficam apinhados de idosos, mulheres e
crianças. |
A tradição tem como
base a demonstração de valentia e força humana. |
Na Ilha Terceira,
milhares de pessoas se reúnem na praça para acompanhar a
festa. O espaço reservado ao touro e aos participantes é
protegido por tapumes ou pela corda presa aos chifres do
animal. |
Os primeiros registros
desta herança açoriana, em Santa Catarina, seriam datados da
década de 1820, com o nome de folia do boi no campo. |
O hábito de ser
praticada durante a Semana Santa se explica pela crença na
expiação da morte de Cristo. O enfrentamento do boi seria uma
forma de sacrifício para reparar o mal sofrido pelo Filho de
Deus. |
Festa fechada |
No início da manhã de
ontem, na praça de Governador Celso Ramos, centenas de pessoas
aguardavam a chegada do boi. Comerciantes, precavidos,
lançavam mão de tábuas para evitar danos materiais aos
estabelecimentos, comuns nesta época. Proprietário de um
mercado na Armação da Piedade, João Henrique Monteiro protegeu
o local com estrutura de madeira. |
- A farra faz parte da
tradição daqui. As pessoas deveriam vir conhecer - disse
Monteiro, concluindo por advertir a equipe do Diário
Catarinense para o perigo de estar ali. |
Os farristas não
permitem que a imprensa registre nada. Quando avistam uma
câmera fotográfica ou filmadora, a palavra repórter corre de
boca em boca. |
Carnaval fora de época |
A farra do boi tem
características de evento oficial. Grupos de farristas se
paramentam com camisetas coloridas que lembram os blocos de
Carnaval. Uma delas, de cor amarela, trazia os seguintes
dizeres: "Se o boi não vem pela terra, vem pelo mar. Se não
vem pelo mar, vem pelo ar. Mas a farra do boi jamais acabará." |
Outra, de cor
vermelha, trazia estampada a cabeça de um boi, o nome da Praia
de Ganchos e a frase: "Festa Nacional da Farra do Boi". |
http://www.clicrbs.com.br/jornais/dc/jsp/default2.jsp?
Farristas fogem
da PM no Litoral Norte
SICÍLIA VECHI/ Itapema
A Polícia Militar dispersou participantes de duas farras do boi no
Litoral Centro-Norte na madrugada de ontem. Em Itapema, um dos
animais não resistiu aos ferimentos e ao cansaço provocado pela
longa perseguição e morreu.
A farra acontecia no Bairro Sertão do Trombudo, por volta das 2h,
quando a Polícia Militar de Itapema chegou ao local e constatou
que cerca de 50 participantes maltratavam o boi. Com reforço em
efetivo e armas, a presença dos militares conseguiu inibir alguns
farristas, que fugiram sem oferecer resistência.
O animal foi recolhido com vida, mas morreu antes de chegar à
Cidasc de Itajaí, onde seria abatido devido à falta de informações
sobre sua procedência e condições sanitárias.
Em Porto Belo, no mesmo horário, a PM flagrou um grupo de mais de
150 pessoas em outra farra do boi, no Bairro Santa Luzia. O animal
foi recolhido e os contraventores fugiram.
Os farristas chegaram a atirar pedras nas viaturas assim que a
polícia chegou. O boi será abatido pela Cidasc.
De acordo com a PM de Porto Belo, a apreensão por 15 dias dos
caminhões que transportam estes animais, instituída por lei
estadual no ano passado, reduziu a quantidade de farras nesta
Quaresma.
- Muitos motoristas procuram não se envolver, porque correm o
risco de ficar sem o transporte. Isso diminuiu os casos aqui na
cidade - relata o sargento Davi da Silva.
Ainda assim, já foram cinco apreensões de animais e três de
veículos este ano, no município.
O que diz a lei |
O acórdão 153.531-8 de 1997 do Supremo
Tribunal Federal |
Considera a farra do
boi uma crueldade com os animais, ofensiva ao inciso VII do
artigo 225 da Constituição Federal e proíbe sua realização,
ainda que sem violência e dentro dos mangueirões, sob pena
de responsabilização de seus agentes. |
O artigo 225 do capítulo VI da Constituição
Federal |
Todos têm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações. |
Parágrafo 1º - Para
assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder
Público: |
VI - Promover a
educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente. |
VII - Proteger a
fauna e a flora vedadas, na forma da lei, as práticas que
possam colocar em risco sua função ecológica, provoquem a
extinção das espécies ou que acabem por submeter os animais
à crueldade. |
A lei dos crimes ambientais (lei 9.605 de 12
de fevereiro de 1998) |
Seção 1 - Dos crimes
cometidos contra a fauna: |
Artigo 32 - Praticar
atos de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais
silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. |
Pena - Detenção de
três meses a um ano e multa. |
Parágrafo 1º -
Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa
ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou
científicos, quando existirem recursos alternativos. |
Parágrafo 2º - A
pena é aumentada de 1/6 a 1/3 se ocorre a morte do animal. |
Animal morre
afogado em praia da Ilha
Um boi foi encontrado morto no mar, próximo ao costão norte da
Praia dos Ingleses, no Norte da Capital, na manhã de ontem. Os
salva-vidas avistaram um objeto estranho boiando a 700 metros da
praia e, com o auxílio de binóculos, identificaram o boi.
Os salva-vidas desceram do posto e procuraram ao longo da praia
alguém que pudesse ceder uma embarcação, única forma de retirar o
pesado animal do mar.
O profissional de Educação Física Sérgio Machado emprestou um
caiaque e ajudou no resgate. Os pescadores locais cederam uma
corda.
A retirada levou uma hora. Três pessoas remaram até o boi, que já
estava morto, amarraram-no ao caiaque e o puxaram para a areia da
praia. O boi foi carneado em plena praia, ao lado da bandeira
vermelha que alerta para local perigoso. |