da Itália e capturado pela
carrocinha italiana que graças a Deus não tem nada a ver com as
brasileiras. De qualquer forma era um cachorro sem dono e abandonado, sem
raça e com poucas condições de ser adotado pois no canil pra onde fui
levado tinham tantos outros como eu que minha probabilidade de encontrar
uma família era mínima. Aqui as pessoas tem muito amor aos animais mas não
sei porque quando devem ir de ferias nos deixam em uma estrada estranha e
longe de casa esperando que durante o tempo que estão curtindo as férias
nos hotéis de luxo nós possamos retornar a casa sozinhos como em uma
espécie de "Caça a casa". Mas eles não sabem que nós somos filhotes e não
sabemos ainda qual estrada seguir.Quando vemos o carro ir embora pensamos
que seja o momento de correr atrás até alcançá-los mas eu achei tão
difícil que me cansei e não consegui. No canil perguntei aos meus outros
companheiros e nenhum deles tinha conseguido. Que jogo difícil. De
qualquer forma aos 8 meses me encontrava no canil de Seriate (Bergamo) e
depois que um senhor com luvas de plástico me examinou, me furou com uma
agulha dizendo que eram vacinas e outras coisas mais fiquei em silencio
esperando que meu dono voltasse das férias. Eu era pequeno e meu pai era
um cachorro muito bonito, todo preto e alto. Minha mãe era a querida da
família e de vez em quando trocavam o seu nome chamando-a Cocker Spaniel....mas
ela se chamava Lilla!! Não importa! Entendi, porem, que meu pai não era
casado com minha mãe e que não deveriam ter tido filhos. Talvez porque
papai era muito mais alto que minha mãe...nao sei! Diziam que ele era SRD...será
o nome da raça??
Voltando ao canil, os dias passavam e não aparecia ninguém. Comecei a
olhar com afeto pra todos os donos dos meus amigos que viam pegá-los na
esperança de ser levado junto, quem sabe?!! Iniciei gostar daquele lugar
mas às vezes chegavam certos cachorros chorando, chamando os pais etc e eu
me sentia muito mal. De dia vinham pessoas pra limpar e alguns conversavam
um pouco comigo, além disso passava o dia agarrado a grade olhando pra o
portão esperando que meu dono, que eu já não lembrava nem a cara, chegasse
pra me pegar. Ah, já ia esquecendo...o senhor com as luvas de plástico me
fez uma coisa estranha: me deu uma furadinha que me fez dormir e quando
acordei estava com meu peruzinho todo estranho e sentia frio. Cortaram
meus pelos ao redor de onde sai minha pipi e acho que fizeram alguma
coisa.....o que será ?
Um dia vi que chegavam uma moça com uma criança e olhavam dentro das
nossas casinhas. A menina parecia meio assustada e os outros meus amigos
latiam pra dizer: "venha aqui, olhe pra mim" mas latiam um mais alto do
que o outro que a menina não entendia nada. A sua mamãe carregou ela no
braço e fez sinal pra não se assustar. Eu gostei muito daquele gesto e
comecei a admirá-las. Percebi que vinham na minha direção e como eu já
estava agarradinho as grades ali continuei. Elas olhavam todos meus amigos
que eram menores que eu então entendi que procuravam um filhote
pequenininho....eu era grande??!! Quando a senhora chegou perto de mim eu
olhei-a como quem olha pra a propria mae e por alguns segundos(ou
minutos,talvez horas?) nos fixamos e ela disse alguma coisa à moça do
canil. A menina começou a chorar e pensei de ter feito algo errado. Foram
embora.....
Passei uma noite horrível! Me sentia um objeto e entendi que ninguém me
queria e que passaria o resto da vida ali dentro.
No outro dia eu não queria nem sair de casa pra brincar com meus amigos.
A tarde tive uma sensação estranha porque eu sentia no meu nariz o mesmo
cheiro que senti ontem quando vieram aqui a mamãe com a filha (aquela
chata, chorona, por causa dela não me levaram embora!!). Era o mesmo odor
mas quando olhei não vi ninguém. Passaram alguns minutos e ouvi o portão
que se abria e meus amigos de novo começaram a latir e a dizer mil coisas
não se entendia nada. Fiquei meio tonto e de repente vi chegar perto do
meu recinto aquela mesma mamãe de ontem, e dessa vez sozinha!!! Ela falava
com a minha "doméstica" do canil que mostrava os meus amigos menores e a
mamãe olhava pra mim e insistia em dizer algo tipo: mas é esse o que eu
quero. De novo foram embora, dessa vez dentro a casinha da minha doméstica
(não sei como se chama e gosto muito dela mas é uma pessoa que chega de
manhã e vai embora de tarde, não me leva embora com ela e abre sempre a
porta pra quem chega: quem poderia ser senão a doméstica?) Ficaram dentro
por alguns minutos e depois a mamãe veio na minha direção abriram a porta
e me fizeram sair!!!! Uauuuuuu.....aonde vamos, como se chama, aonde você
mora, cadê a menina chorona, estou com fome, estou com sede, qual é seu
carro, vai me deixar na estrada estranha, essas eram minhas perguntas mas
não conseguia coordená-las porque meu coração batia muito forte. Fomos
embora do canil. Entramos num carro que fazia frio e era
confortável....que macia essa poltrona!!! Imaginei de irmos a sua casa mas
ela me deixou em um lugar horrível!!! Era apertado, fazia um barulho
enorme e tinham outros cachorros alguns até sem pelo!!! Que horror! A
mamãe foi embora de novo.....buàààà........Uma dona alta e forte me
colocou logo em uma espécie de buraco que chamavam "banheira" e me deu um
banho com uma coisa nojenta porém perfumada que criou uma camada branca e
esponjosa em cima de mim. Fiquei ridículo. Dizia que tinha que me ensaboar
bem!! Depois me lavou com água e me secou os pelos com um vento
quente......aiutooooo....
Me tocavam todo, lavaram até meu fundinho!! Quando terminaram não
agüentava mais e fiz um pouco de xixi no pé daquela mulher que me deu
banho. Ela se danou e me deu um meio-banho de novo! Depois fiquei quieto
esperando algo mais de horrível. Pedì um pouco de comida mas ninguém me
entendia. Que chatice!!
Depois de alguns minutos apareceu de novo a mamãe....já sei agora me leva
de novo ao canil...vamos lá, não me importa.
Entrei de novo no carro mas dessa vez ela me colocou uma coisa no pescoço
igual a que meus ex-donos tinham tirado quando me deixaram na estrada. Era
cor de sangue, lindo com umas coisa que pareciam luzes. Tinha dentro do
carro uma sacola com muitas outras coisas e um cheirinho bom!!! Depois de
alguns minutos chegamos em uma casa e a mamãe me deixou atracado em uma
porta e saiu correndo sem nem dizer "Ciao". Tocou a campainha dessa casa e
foi embora!!! Vi que deixou a sacola e um papel com algumas coisas
escritas. De repente a porta se abriu e apareceu uma senhora que era igual
a mamãe um pouco mais velha e ficou me olhando e falando. Vi que estava
meio atrapalhada. Me fez entrar na sua casa e depois de poucos instantes
mágicos eu já estava na "Minha Casa" com minha mãe. Já se passaram 5 anos.
Descobriram muitas doencinhas em mim mas foi tudo tratado por outro senhor
com luvas de plástico que chamam dr. Bosio. Depois de alguns meses fiz uma
viajem longa pra um país chamado Brasil, depois outra viajem de volta a
Itália e depois outra ao Brasil onde estou até hoje. Se vocês quiserem
posso contar minhas varias aventuras com minha família que eu amo tanto:
minha mãe, a filha dela que se parecem muito, as duas netas que me adoram
(uma era a chorona que cresceu e ficou linda) e meu amigo Carlo (genro da
minha mãe) que é aquele que me levava a correr e caminhar nas montanhas na
Itália. Hoje tenho uma doença que faz minhas plaquetas caírem a zero mas
minha mãe cuida de mim e me dá todos os dias um comprimido que me faz
estar bem. Anexo seguem minhas fotos em uma visita ao canil depois de
alguns anos e outra no aeroporto com minha mãe e mamãe.
Contei pra vocês um pouco da realidade italiana quando contei sobre o
canil etc. mas sei que meus amigos brasileiros sofrem muito porque vejo
minha mãe e principalmente mamãe falarem sempre dos animais que sofrem no
mundo. Fico feliz por ter encontrado elas e peço a quem tiver um pouco de
amor no coração pra dar de ir em qualquer CCZ do Brasil ou qualquer outro
lugar onde se encontram cachorrinhos que como eu esperam que uma mãe vá
buscá-los ou salvá-los. Estarão sempre agarradinhos na grade olhando pra o
portão a espera de alguém.
Ciao un bacio a tutti.
Nerone.
Clique para ver
minhas fotos
Veja também a história de Toby, il Nonno
História enviada por
Sara Mesquita, brasileira residente no norte da Itália
|
|