Esta história tem início ao
entrar em uma loja de animais juntamente com minha filha, que na época tinha 7
anos. Estávamos lá olhando alguns peixinhos, quando ela se aproxima de uma
gaiola contendo três cãezinhos vira-latas. Em alguns segundos lá estavam minha
filha e uma cadelinha marrom, as duas juntas como se fosse amor à primeira
vista, e como já era de se esperar, veio o pedido: “- Pai! Compra ela pra
mim!”. Tentei desviar a sua atenção mostrando outros peixinhos...de nada
adiantou..., elas continuavam ali..., olhando uma para a outra através das
grades. Minha filha chamava tanto a atenção conversando com a cadelinha que o
dono da loja de animais foi até lá e retirou-a da gaiola para que as duas
pudessem se tocar, e foi uma festa, as duas correndo pela loja como se já
fossem grandes amigas. Deixei que brincassem bastante, chamei minha filha e
lhe disse que morávamos em um apartamento, que um cão necessitava de espaço
para correr e que a cadelinha com certeza iria arranjar um dono com uma casa
que tivesse bastante espaço para ela. Imaginando que ela já estava convencida,
fomos para casa.
Ao chegarmos em casa minha filha continuava com a sua obstinação em ter aquela
nova amiga e não parava de contar para a mãe o quanto aquela cadelinha marrom
era bonita e charmosa e de sua tristeza em saber que ela estava presa em uma
gaiola.
Passadas algumas horas minha filha foi ficando triste e calada, um pouquinho
mais tarde ela já ardia em febre, fizemos de tudo para a febre baixar e nada,
foi quando sua mãe lhe perguntou se ela queria voltar à loja de animais para
ver a cadelinha, e como mágica um sorriso apareceu em seu rosto e a febre
começou a baixar. E lá fomos nós, conhecer aquela que viria ser o novo membro
da família.
Chegamos em casa já com nossa nova amiga, escolhemos para ela o nome Laika,
que mais tarde iria se tornar um nome muito apropriado, e passamos a conviver
maravilhosamente. Laika tornou-se a companheira inseparável de minha filha em
todas as brincadeiras e ajudou-a a desenvolver um senso de responsabilidade
que nenhum outro ser seria capaz.
Passados três anos, mudamos para os E.U.A. Chegamos ao novo país, aluguei
nosso novo apartamento, paguei a taxa obrigatória para que pudesse manter
Laika em nossa companhia, e lá vivemos durante quatro anos. Até que um dia
chegou o momento de voltarmos ao Brasil.
Iniciei assim mais uma vez o procedimento de embarque de Laika, veterinário,
ministério da agricultura americano, consulado brasileiro e companhia aérea.
Chegando o dia do embarque lá estava eu, com várias malas e mais a caixa de
transporte de nossa amiga. Já dentro da aeronave percebo que a temperatura da
cabine está bem mais alta do que o habitual, mas não me importo considerando
que haviam desligado o gerador antes da decolagem. A aeronave decola, a
temperatura volta ao normal e lá vamos nós de volta ao Brasil.
Já em solo brasileiro, enquanto estou aguardando minhas bagagens na esteira,
com a amiga Laika ao meu lado, uma comissária se aproxima de nós e pergunta se
eu percebi que a temperatura da cabine antes da decolagem estava mais alta do
que o normal, digo que sim, a comissária me responde que a alta temperatura
foi em preocupação com Laika, pois o compartimento de bagagens ficaria muito
frio caso o ar condicionado se mantivesse ligado antes da decolagem. Agradeci
e fiquei pensando quanta sorte tinha essa cadelinha vira-lata com sua simpatia
acima do normal.
E Laika acabou se transformando em um nome muito apropriado para essa nossa
grande amiga que hoje tem 11 anos, mora com minha filha no litoral e possui em
seu currículo algumas horas de vôo.
Este texto foi produzido para alertar as pessoas que muitas vezes, apenas
por uma simples mudança de endereço ou um passeio de férias abandonam seus
animais que ficam perambulando pelas ruas aguardando a própria sorte.
Erico Mabellini – Editor do Tribuna Animal
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