modismo
causado por inúmeras propagandas com cães dessa raça. Eu já havia lido
tudo a respeito de Retrivers, já era uma
expert no assunto e logo sai correndo em direção das duas fofuras, uma
aparentava ser mais velha, a amarela, ambas estavam com fome, sede e
sujas, sabia que tinham donos e procurei informações sobre quem as havia
perdido, meu sogro ao regressar do pasto disse-me que vizinhos de um sítio
próximo estavam doidos atrás das duas cachorrinhas que haviam escapado em
um momento de distração da família, pedi-lhe então que os avisasse que
ambas estavam bem e que viessem buscá-las o que foi feito logo no início
do anoitecer e como recompensa recebi a promessa de um filhote assim que
uma delas desse cria, confesso que chorei quando elas se foram, a pretinha
havia ficado muito grudada à mim, algo nos ligava, o que me consolava era
saber que tinha tomado a atitude certa em devolvê-las, com certeza
gostaria que alguém fizesse isso por mim se um animalzinho meu sumisse.
Descobri que a pretinha chamava-se Jeanne e tinha então 5 meses e sua irmã
chamasse Paquita e tinha então 9 meses.
Passaram-se alguns meses e um dia meu telefone celular tocou, eram meus
sogros avisando que a família para qual eu havia devolvido as Labradoras
estava doando a pretinha pois o senhor havia sofrido um enfarte e já não
tinha condições de cuidar de seus 4 Labradores e a mais nova, a Jeanne,
estava dando muito trabalho ainda, coisa de Labrador que são bagunceiros
até os 3 ou 4 anos, verdadeiras crianças. Seus filhos não tinham como
cuidar de mais uma, então deixei o Hotel em que
estava passando a confraternização de final de ano para ir buscar o melhor
presente que já havia ganho: minha Jeanne.
Como não tinha nada em casa para recebê-la corri em um hiper mercado e
comprei biscoitos, ração Premium, caminha, coleira, guia, bandanas e tudo
que achei que seria útil, a família que a doou havia me explicado a
História da minha Jeanne: ela havia sido vendida para um engenheiro que a
abandonou em uma de suas construções, a pobrezinha se alimentava de restos
de comida dos pedreiros que tinham dó dela, ao descobrir isso a nora do
senhor que me deu a Jeanne foi até lá, devolveu o dinheiro da "criatura" e
tomou a cachorra de volta levando-a pro sítio de seus sogros, mas
infelizmente o sofrimento da Jeanne ainda não tinha terminado.
Eu me casei no civil em junho de 2002 e fui morar em outra cidade, a casa
que havíamos comprado tinha tido um pré-requisito um bom canil para
abrigar minhas meninas (eu já havia comprado a Godiva para fazer companhia
a Jeanne e minha mãe, que fez medicina no exterior enquanto papai
trabalhava, havia importado a Chèrie) e um quintal para que pudessem
exercitar-se e brincar muito. Como mamãe voltaria ao nosso País somente em
dezembro mudei a data do meu casamento no religioso para tal mês, mas
entre meu casamento no civil e no religioso eu passaria por uma provação
muito grande. Minha Jeanne começou a vomitar, ter diarréias com sangue
vivo, febre alta e não comia ou bebia água mais, rodei por diversos
veterinários e cada um me dava um diagnostico diferente, comprei uma
infinidade de remédios e nada, no terceiro dia a Jeanne ameaçou parar de
respirar, corri com ela pra única clinica que estava aberta aos domingos
na cidade (já havia levado-a em três cidades diferentes nos últimos 2 dias
em veterinários que sempre cuidaram de meus animais), ela foi internada,
passou por raio-x, ultrasonografia, exames de sangue, urina etc e ficou no
soro, mais tarde veio o temível diagnostico, ela havia contraído 5
soro-tipos de leptospirose, mesmo estando
vacinada com a melhor marca mundial e tendo todas as vacinas em dia. A
luta começou assim que o "inimigo" foi identificado, pedi então ao
veterinário que fosse honesto comigo e soube que minha menina tinha menos
de 2% de chance de sobreviver, mas resolvi lutar por ela custasse o que
custasse. Foram muitos dias de sofrimento, eu já não comia, não dormia, só
chorava e minha Je não melhorava, até que chegou o dia que eu mais temia,
o veterinário veio conversar comigo à noite enquanto eu observava de longe
minha pequenina que estava no isolamento, sem forças para levantar ou
sequer abanar a cauda, já não comia à dias e estava muito desidratada,
seus olhos ainda insistiam em ter um pouco de vida, o que o veterinário
falou-me foi algo que causou-me a maior dor de minha vida até hoje: a
Jeanne teria no máximo mais dois dias de vida, ele precisava que eu
retornasse pela manhã para assinar a autorização da eutanásia, em meio à
lágrimas concordei, por amor à Jeanne. Fui para casa em prantos e passei a
noite toda rezando para São Francisco de Assis, pedi que ele fizesse o
melhor para minha Jeanne e no fundo do meu coração acreditei em um
milagre. Na manhã do dia seguinte o identificador de chamadas acusou a
ligação da clínica, eu não queira atender mas algo disse-me que o melhor
por ela havia sido feito: o veterinário assim que eu atendi perguntou-me
se eu acreditava em milagres, a Jeanne estava de pé, havia tomado dois
pratos de canja, arrancado o soro da pata e chorava que queria sair da
gaiolinha. Não preciso nem falar que corri para clínica e com uma luva
pude enfim tocar a minha Jeanne que para espanto de todos nem parecia à
mesma da noite anterior, ela ainda ficou internada e passou por uma
cirurgia para retirada do útero e de um dos ovários, tomou remédios por
mais de seis meses e até hoje tem o fígado e o rim comprometidos, mas é
linda, alegre, ama a vida e sua família humana e sua sobrinha Godiva, como
vocês podem ver pela foto dela no site, ela hoje é uma Labradora feliz e
vive cercada de mimos e amor, o mesmo amor que motivou-me a salvá-la ao
custo de eu ficar à pé por mais uns anos e com a poupança a zero, o mesmo
amor que deu-me forças para ouvir pessoas me chamarem de louca e disserem
que com aquele dinheiro eu poderia comprar uns 10 labradores com pedigree
(a Jeanne não tem isso e nem me importo), o mesmo amor que ela sempre me
deu de forma desinteressada, o mesmo amor que eu e ela sentimos uma pela
outra no dia em que encontramo-nos no sítio e no fundo sabíamos que
seríamos uma da outra.
Clique
para ver as fotos de Jeanne e Godiva
História
enviada por Cintia Elizabete Crozera |
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