O Estado de São
Paulo - Segunda-feira, 9 abril de 2007
Fashion,
Rita e rock n' roll
Prestes a completar 60 anos de vida e 40 de carreira, cantora
inspira nova coleção da Rosa Chá, cria 15 looks para a grife e
ganha uma mostra em sua homenagem
Flávia Guerra
Moda. Luxo ou lixo? “Depende. Já fiz show de pijama e já dormi de
vestido de baile.” Sentencia ninguém menos do que Rita Lee. A
própria, que vem, com o perdão do trocadilho, inventando moda há
décadas. Rita foi modelo nos anos 60, revolucionou a música
brasileira com os Mutantes nos 70, virou ícone de comportamento
nas décadas seguintes e, neste ano, completa 60 anos de vida
(nasceu em 31 de dezembro de 1947) e 40 de carreira.
Para comemorar, uma homenagem à altura. O estilista Amir Slama,
gênio criativo da Rosa Chá, dedica uma coleção à cantora para quem
fazer moda é fazer rock. E vice-versa. Mais que um tributo
dedicado à eterna roqueira, esta é uma coleção também criada por
Rita. “Vejo como uma homenagem chique para vestir os meus 40 anos
de estrada. Amir foi até minha casa e falou sobre a idéia de usar
facetas da minha vida para sua coleção. E meu ego adorou”, conta
Ritz (como é chamada pelos amigos) que para este ano comemorativo
também prepara nova turnê.
O estilista começou a trabalhar a coleção em agosto, mas, na
época, não tinha ainda pensado na cantora para ser ‘a cara’ do
inverno 2007. “A coleção tinha um conceito muito urbano, mas não
tínhamos pensado ainda no conceito rock. Por acaso eu estava
ouvindo muito Rita Lee e acabei comprando uma biografia (Rita Lee
Mora ao Lado - Biografia Alucinada da Rainha do Rock, de Henrique
Bartsch). Ela não saía da minha cabeça. Foi na mesma época em que
um amigo a levou para uma das lojas da Rosa Chá, porque ela ia
viajar e queria comprar biquínis.”
Amir ligou para o amigo e pediu para conhecer a cantora. “Queria
contar uma história que falasse da relação da Rita com São Paulo e
com a história do rock. Eu já a adorava. Depois de conhecê-la,
fiquei mais apaixonado. Começamos a conversar sobre as cores e
tendências de que ela gostava. Tudo foi tomando corpo. A coleção é
toda baseada nas influências da Rita. Tem um pouco de Beatles, de
David Bowie, de Tropicalismo, de Mutantes, de discos voadores,
sensualidade. Misturei tudo isso”, explica Amir, que também usou
as referências visuais de uma grande cidade como São Paulo para
compor a palheta de cores, que abusa do cinza, dos grafites - e
das frases, que são o emblema desta coleção. Não poderia faltar o
uniforme clássico de todo roqueiro: a camiseta. “Camisetas são meu
figurino predileto desde que James Dean apareceu. Dei algumas
sugestões. Mostrei para Amir algumas camisetas preferidas e,
juntos, escolhemos frases, cores e imagens. Sem falta de modéstia,
posso dizer que ‘faço moda’ desde a época dos Mutantes. Mas é a
equipe da Rosa Chá quem merece o crédito.”
O resultado pode ser visto nas vitrines da grife. E também em uma
exposição que abre amanhã e vai até o dia 16/04 na Fnac Paulista.
O nome não poderia ser mais adequado: Rock Urbano Ritz. Além da
cantora vestindo a camisa da coleção, a mostra traz figurinos
históricos do acervo pessoal de Rita (leia texto abaixo). Imagens
e conceitos que marcaram a trajetória da cantora estão nas
camisetas. Algumas exibem frases que marcaram sua carreira e, por
isso, foram escolhidas por ela. “Eles amam as loucas, mas se casam
com as outras”, “In my rocket you need no VISA in your pocket” e
“A gente faz amor por telepatia” são algumas. Itinerante, a
exposição fica em São Paulo até o dia 16. Depois, segue para
Curitiba, Goiânia, Fortaleza, João Pessoa e Rio. E, boa
vegetariana e apaixonada por animais que é, toda a renda da venda
das T-shirts será doada para o Fórum Nacional de Proteção e Defesa
Animal.
Mais que o espírito fashion, essa coleção e a exposição celebram a
atitude rock. Afinal, o rock nunca saiu de moda. Nem Rita. “Quando
eu era bem jovem, tentava seguir as tendências planetárias. era
uma maneira de me sentir dentro da nova ordem mundial em
contraponto com a ditadura pobre que existia aqui no Brasil. Hoje,
prefiro ser uma fora de moda”, responde ela, diante da velha
questão: “Você é fashion?” E completa: “Não sei se você sabe que
eu fui modelo nos desfiles da Rhodia nos anos 60/70, mas essa vida
dura pouco, foi muito melhor eu ter ficado com a música, hehehe...”
Há que se concordar.
Se estar fora de moda é ainda ser referência de atitude aos 60
anos, que o mundo fashion seja sempre assim. Rita, numa lição
básica do que deveria ser a moda para todos, resume: “Não sou de
me deslumbrar com grifes; se me sentir bonitinha usando um Versace,
tudo bem, mas se aparecer uma peça linda de um brechó made in
Paraguai dá no mesmo.”
(SERVIÇO)Rock Urbano Ritz. Fnac Paulista. Av. Paulista, 901,
térreo, tel. 2123-2000. 10 h às 22 h. Até 16/4. Abertura amanhã,
18h |