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A
Kiki é uma prova inconteste que a tão propalada "eutanásia" (terminologia
mal empregada, haja vista que tal prática só é indicada para seres vivos
portadores de doenças reconhecidamente incuráveis), muitas
vezes utilizada de forma totalmente irresponsável e leviana,
nada mais é que uma matança desnecessária e
criminosa.
A Kiki foi, para mim, uma das molas propulsoras para, um dia, fundar
uma entidade para defender os direitos à vida e à dignidade
animal.
Maria Lúcia
Metello
Abrigo dos Bichos
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Saudosa
Kiki
04/11/80 -
08/11/88
Sempre gostei de animais! Sem distinção. Meu pai criava cães aos montes. Em minha infância, lembro-me que o número mínimo em minha casa era de cinco cães. Não raras vezes, em meu retorno do colégio, eu pegava algum cãozinho abandonado na rua. Não resistia e trazia comigo. Não havia porque me preocupar, a minha mãe deixava. Fui crescendo e continuando a pegar cães. Até que a história se inverteu, eles "achavam" a porta de minha casa e de lá não saiam até eu recolhê-los. Eram sempre animais bem debilitados, sarnentos, magros. Enfim, seres que procuravam atenção, casa e comida. Nesta época, eu já cursava Medicina Veterinária e como morava em apartamento, eu os levava para o Hospital Veterinário da UFMS, onde os tratava. Um dia, estava estudando para uma prova que teria ao final da tarde e uma colega, que se encontrava no plantão, entregou-me uma criaturinha que cabia na palma de minha mão, portadora de uma mal-formação congênita, ou seja, tinha os membros posteriores deformados e, apesar de tão novinha, já apresentava algum "calo" nas pequeninas perninhas traseiras. Assim disse a colega: "Pega porque o professor (do plantão) condenou para ‘eutanásia’". Claro que peguei aquela cadelinha (fox paulistinha) e levei para minha casa, alimentando-a com leite engrossado em "chuquinha" de bebê. Invariavelmente, a bendita me acordava todo dia, às 4 horas, pedindo o seu leite. Entalei suas perninhas, ministrando cálcio e todo o complexo vitamínico necessário para uma boa recuperação. Até que ela começou a andar... Mas com aquele estilo "100 metros rasos", pois desenvolveu muito os membros anteriores. Casei-me na fazenda e ela, lá, no meio da festa. Hoje, com saudades, vejo a minha querida Kiki em todas as fotos de meu álbum de casamento como se fosse uma autêntica "dama de honra". A Kiki era conhecida por todos os amigos na cidade, pois acompanhava ao meu marido e a mim em nossas visitas, indo, inclusive, a restaurantes – por nossa sorte, nunca fomos barrados. Tinha predileção pelo meu marido e pela minha mãe. Não podia vê-los que fazia a maior demonstração de alegria sempre. Após muitos anos de feliz convivência, ela se foi, sendo motivo até de interurbano, haja vista alguns familiares se encontrarem fora da cidade. Afinal de contas, ela fazia parte de nossa família. Em sinal de respeito, foi enterrada sob a sombra de uma frondosa árvore na fazenda. Maria Lúcia Metello, médica veterinária, advogada, defensora dos animais e presidente da oscip Sociedade de Proteção e Bem-Estar Animal Abrigo dos Bichos. E-mail:
abrigodosbichos@top.com.br
![]() Charles E.
King, Al Hoffman, Dick Manning
Orquestra
de Billy Vaughn. ![]() Texto publicado no Jornal Correio do
Estado
Caderno B
Seção Bichos
Campo Grande, MS
Roland Steiner - Rio de Janeiro, em
12/07/2006. |